«Dentro em breve estarei apesar de tudo bem morto finalmente. Talvez para o mês que vem. Será então o mês de Abril ou de Maio. Porque o ano vai pouco adiantado, mil pequenos indícios mo dizem. Pode ser que me engane e que passe ainda o São João ou até o 14 de julho, festa da liberdade.»
(Dom Quixote, 2.ª edição, Maio de 2003, pág. 7; Tradução de Miguel Serras Pereira; Obra Original: Malone Meurt, 1951))
«No dia seguinte ninguém morreu.»
(Caminho, Outubro de 2005, pág. 13)
«O homem conduz a sua vida e ergue as suas instituições sobre terra firme. Todavia, procura compreender o curso da sua existência na sua totalidade, de preferência, com a metáfora da navegação temerária.»
(Vega, 1990, pág. ?; Tradução de Manuel Loureiro; Obra Original: Schiffbruch mit Zuschauer, 1979)
Contribuição de Luís Carmelo, Miniscente.
«Desocupado lector:
«sin juramento me podrás creer que quisiera que este libro, como hijo del entendimiento, fuera el más hermoso, el más gallardo y más discreto que pudiera imaginarse. Pero no he podido yo contravenir al orden de naturaleza, que en ella cada cosa engendra su semejante.»
Em português:
«Desocupado leitor, sem juramento me poderás crer que quisera que este livro, como filho do entendimento, fora o mais formoso, o mais galhardo e o mais discreto que pudera imaginar-se. Mas eu não pude contravir a ordem da natureza, na qual cada coisa engendra a sua semelhante.»
(Civilização, 1999, Vol. I, pág. 20; Tradução de Daniel Augusto Gonçalves e Arsénio Mota; Obra Original: El ingenioso hidalgo Don Quixote de la Mancha, 1605; Título posterior: Don Quijote de la Mancha)
Contribuição de Rogério, Conto as favas.
«Eunice Parchman matou a família Coverdale porque não sabia ler nem escrever.»
(Gradiva, 1.ª edição, 1984, pág. ?; Tradução de Adélia Silva Melo e revisão de Manuel Joaquim Vieira; Obra Original: A Judgement in Stone, 1977)
Contribuição de Abel Sequeira Ferreira, The Red Notebook.
«Depois de tantas horas de caminhar sem encontrar nem uma sombra de árvore, nem uma semente de árvore, nem uma raiz de nada, ouve-se o ladrar dos cães.»
(Cavalo de Ferro 2003, pág.11; Tradução de Ana Santos; Obra Original: “Nos han dado la tierra” in El llano en llamas, 1953)
Contribuição de Filinto Melo, Jornada.
«Acordei da doença aos quarenta e cinco anos, calmo, são de espírito e, excepto o fígado debilitado e a aparência de estar metido na pele de um outro que é comum a todos aqueles que sobreviveram, razoavelmente saudável. A doença… a maior parte dos doentes não se lembra do delírio em pormenor.»
(Editorial Notícias, 1.ª edição, Outubro de 2002, pág. 9; Tradução de José Luís Luna e revisão de Abel Gomes; Obra Original: Naked Lunch, 1959)
Contribuição de Henrique Fialho, Insónia.
«Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: é o suicídio. Julgar se a vida merece ou não ser vivida, é responder a uma questão fundamental da filosofia.»
(Livros do Brasil, 1.ª edição, Setembro de 2005, pág. 15; Tradução de Urbano Tavares Rodrigues; Obra Original: Le mythe de Sisyphe, 1942)
Contribuição de Sérgio Lavos, Auto-Retrato.
«De avô a bisneto, os Gastões conquistaram toda a Azinheira e passaram para lá do rio, para depois perderem até o que não tinham. Foi só então que se soube que mesmo o nome era usurpado: eram Oliveira, de origens obscuras e misturadas, nascidos decerto em desterro e temperados pela maldição.»
(1969, sem mais referências)
Contribuição de Luís Mourão, Manchas.
«Cannery Row, em Monterey, na Califórnia, é um poema, um fedor, uma estridência, uma gradação de luz, um som, um vício, uma nostalgia, um sonho.»
(Verbo, 1972, pág. ?; Tradução de Luísa Maria de Eça Leal; Obra Original: Cannery Row, 1945)
Contribuição de Mónica Granja, Linha do Norte.
«Não se escreve melhor porque se escreveu muito. Às vezes, vou surpreender nas páginas antigas assinadas pelo meu punho um tom perfeito em que a imaginação ronda como uma madrinha incapaz de envelhecer e de perder a razão. A razão é a mesma, a coberto das longas provações das decepções, da experiência, de tudo.»
(Guimarães, 5.ª edição, Novembro de 2002, p. 7)
Contribuição de uma Leitora devidamente identificada.
«Quando o canalizador Joseph Bloch, que tinha sido um conhecido guarda-redes, se apresentou ao trabalho uma manhã, soube que fora despedido.»
(Relógio D’Água, 1987, pág. 9; Tradução de Maria Adélia Silva Melo; Obra Original: Die Angst des Tormanns beim Elfmeter, 1970)
Contribuição de Pedro Vieira, irmaolucia.
«Assola o país uma pulsão coloquial que põe toda a gente em estado frenético de tagarelice, numa multiplicação ansiosa de duos, trios, ensembles, coros.»
(Caminho, 1.ª edição, Novembro de 2003, pág. ?)
Contribuição de Henrique Fialho, Insónia.
«O meu sofrimento deixou-me triste e desanimado.»
(Difel, 7.ª edição, Setembro de 2005, pág. 19; Tradução de António Pescada; Obra Original: Life of Pi, 2002)
«Faço questão de assegurar com toda a clareza que não tenho qualquer intenção de colocar a minha pessoa num lugar de destaque, ao escrever algumas palavras acerca de mim mesmo e das minhas próprias actividades, antes de iniciar o relato da vida do finado Adrian Leverkühn, a primeira e certamente muito provisória biografia do saudoso homem e músico genial, que o destino tão terrivelmente assolou, engrandecendo-o e derribando-o.»
(Dom Quixote, 2.ª edição, Março de 1999, pág. 9; Tradução de Herbet Caro, com revisão para Portugal por José Jacinto da Silva Pereira; Obra Original: Doktor Faustus, 1947)
«Aí vêm eles, marchando para a luz do sol americano.»
(Relógio D’Água, Junho de 2004, pág. 11; Tradução de José Miguel Silva; Obra Original: Mao II, 1991)
«Yo, señor, no soy malo, aunque no me faltarían motivos para serlo. Los mismos cueros tenemos todos los mortales al nacer y sin embargo, cuando vamos creciendo, el destino se complace en variarnos como si fuésemos de cera y en destinarnos por sendas diferentes al mismo fin: la muerte. Hay hombres a quienes se les ordena marchar por el camino de las flores, y hombres a quienes se les manda tirar por el camino de los cardos y de las chumberas.»
(Espanha: Ediciones Destino, 19ª Edición, 1989, pág. ?)
Contribuição de Manuel A. Domingos, Versões.
«O meu amigo Jacinto nasceu num palácio, com cento e nove contos de renda em terras de semeadura, de vinhedo, de cortiça e de olival.»
(Livros do Brasil, 1981, pág. ?; Publicado originalmente em 1901 – publicação póstuma)
Contribuição de Luís Miguel Oliveira, As Aranhas.
«O eterno retorno é uma ideia misteriosa de Nietzsche que, com ela, conseguiu dificultar a vida a não poucos filósofos: pensar que, um dia, tudo o que se viveu se há-de repetir outra vez e que essa repetição se há-de repetir ainda uma e outra vez, até ao infinito!»
(Dom Quixote, 26.ª edição, Junho de 2004, pág. 1; Tradução de Joana Varela; Obra Original: Nesnesitelná lehkost byti, 1984)
Contribuição de Mónica Granja, Linha do Norte.
«O melhor seria escrever os acontecimentos dia a dia.»
(Europa-América, 1976, pág. 7; Tradução de António Coimbra Martins; Obra Original: La nausée, 1938)
Contribuição de Henrique Fialho, Insónia.
«A aldeia de Holcomb fica situada no meio dos planaltos de trigo, no Oeste do Kansas, numa área isolada a que os demais habitantes do Estado chamam “lá para diante”.»
(Dom Quixote, 1.ª edição, Fevereiro de 2006, pág. 17; Tradução de Maria Isabel Braga; Obra Original: In Cold Blood, 1966)
Contribuição de Victor Figueiredo, Textos para Tudo.
«Foi um suicídio longamente premeditado, pensei, e não um acto espontâneo de desespero.»
(Relógio D’Água, 1.ª edição, 1987, pág. ?; Tradução de Leopoldina Almeida; Obra Original: Der untergeher, 1983)
Contribuição de Carla Carvalho, Welcome to Elsinore.
«Teve uma infância estranha”, disse Austin. “Em última análise, todas as infâncias o são”, disse Mister DeLuxe.»
(Bertrand, 1.ª edição, 1977, pág. ?)
Contribuição de Mónica Granja, Linha do Norte.
«Eu tinha cinquenta anos e há quatro que não ia para a cama com uma mulher.»
(Dom Quixote, 1.ª edição, Julho de 2001, pág. 9; Tradução de Fernando Luís; Obra Original: Women, 1978)
«O que nunca dissemos a ninguém foi que nós também fazíamos coisas debaixo do camião.»
(Dom Quixote, 1.ª edição, Maio de 1997, pág. 25; Tradução de J. Teixeira de Aguilar e Maria do Carmo Abreu; Obra Original: Tres tristes tigres, 1967)
«Dois ex-amantes de Molly Lane estavam à espera à porta da capela crematória, de costas para o frio de Fevereiro. Tudo aquilo já tinha sido dito, mas eles voltaram a dizê-lo.»
(Gradiva, 7.ª edição, Outubro de 2000, pág. 11; Tradução de Ana Falcão Bastos; Obra Original: Amsterdam, 1998)
Contribuição de Rui Miguel Brás, Coisas.
«O autor actual deste livro garante que o leitor não será condenado a morrer depois de o ter lido, como foi o destino dos seus predecessores, em 1691, quando o Dicionário Khazar ainda estava na sua primeira edição e quando o seu primeiro autor ainda vivia.»
(Dom Quixote, 1.ª edição, 1990, pág. ?; Tradução de Herbert Daniel; Obra Original: Hazarski Recnik, 1984)
Contribuição de Mónica Granja, Linha do Norte.
«Só agora Amaro acredita que a primavera chegou: de sua janela vê Clarissa a brincar sob os pessegueiros floridos. As glicínias roxas espiam por cima do muro que separa o pátio da pensão do pátio da casa vizinha. O menino doente está na sua cadeira de rodas; o sol lhe ilumina o rosto pálido, atirando-lhe sobre os cabelos um polvilho de ouro. Um avião cruza o céu, roncando – asas coruscantes contra o azul nítido.»
(Livros do Brasil, 9.ª edição, 1979, pág. ?)
Contribuição de Manuel José Matos Nunes, Disperso Escrevedor.
«Nenhuma cousa se pode prometer à natureza humana mais conforme a seu maior apetite nem mais superior a toda sua capacidade, que a notícia dos tempos e sucessos futuros; e isto é o que oferece a Portugal, à Europa e ao Mundo esta nova e nunca ouvida História.»
(Brasil: Universidade de Brasília, 2005, pág. ?; Organização da obra por José Carlos Brandi Aleixo; Publicado originalmente em Portugal em 1718)
Contribuição de Jorge Andrade Silva, Prima Scripta.
«Ou deixas de foder outras ou está tudo acabado.»
(Dom Quixote, 1.ª edição, 2000, pág. ?; Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues; Obra Original: Sabbath's Theater, 1995)
Contribuição de João Gonçalves, Portugal dos Pequeninos.
«Ela estava tão profundamente implantada na minha consciência que durante o meu primeiro ano de escola eu julguei, tanto quanto me lembro, que cada uma das minhas professoras era a minha mãe disfarçada.»
(Bertrand, 1.ª edição, Março de 1994, pág. 9; Tradução de Ana Luísa Faria; Obra Original: Portnoy's Complaint, 1969)
«Chove mansamente e sem parar, chove sem vontade mas com uma infinita paciência, como toda a vida, chove sobre a terra que é da mesma cor que o céu, entre verde suave e cinzento suave, e a linha do monte já há muito se apagou.
– Há muitas horas?
– Não; há muitos anos. A linha do monte apagou-se aquando da morte de Lázaro Codesal, consta que Nosso Senhor não quis que ninguém voltasse a vê-la.Lázaro Codesal morreu em Marrocos, na posição de Tizzi-Azza; muito provavelmente matou-o um mouro da cabila de Tafersit. Lázaro Codesal tinha grande habilidade para engravidar raparigas…»
(Difel, 1996, pág. ?; Tradução de Maria Carlota Pracana e Salvato Telles de Menezes; Obra Original: Mazurca para dos muertos, 1983)
Contribuição de António Manuel Venda, A Floresta do Sul.
«Quanto mais vou sabendo de ti, mais gostaria que ainda estivesses viva. Só dois ou três minutos: o suficiente para te matar.»
(Assírio & Alvim, 12.ª edição, 2004, pág. 9)
Contribuição de Rui Miguel Brás, Coisas.
«Há um vento daqueles, carregado de poeira, quente, tenso.»
(Asa, 2.ª edição, Maio de 2005, pág. 9)
Contribuição de Mónica Granja, Linha do Norte.
«Nunca estamos infinitamente longe daqueles a quem odiamos.»
(Teorema, 1.ª edição, Janeiro de 2006, pág. 5; Tradução de Magda Bigotte de Figueiredo; Obra Original: La pell freda, 2002)
«Hoje, nesta ilha, aconteceu um milagre. O Verão chegou cedo.»
(Antígona, 2.ª edição, Janeiro de 2003, pág. 13; Tradução de Miguel Serras Pereira e Maria Teresa Sá; Obra Original: La Invención de Morel, 1940)
Contribuição de Miguel Cardina, A Cidade Vaga.
«Do que eu gostava mais no Jardim Zoológico era do rinque de patinagem sob as árvores e do professor preto muito direito a deslizar para trás no cimento em elipses vagarosas sem mover um músculo sequer, rodeado de meninas de saias curtas e botas brancas, que, se falassem, possuíam seguramente vozes tão de gaze como as que nos aeroportos anunciam a partida dos aviões, sílabas de algodão que se dissolvem nos ouvidos à maneira de fios de rebuçado na concha da língua.»
(Dom Quixote, 25.ª edição, Novembro de 2004, pág. 11)
«Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte.»
(Brasil: L&PM, 2002, pág. 15)
Contribuição de Rui Miguel Brás, Coisas.
«Certa manhã, ao acordar após sonhos agitados, Gregor Samsa viu-se na sua cama, metamorfoseado num monstruoso insecto.»
(Guimarães, Março de 2000, pág. 9; Tradução de João Crisóstomo Gasco; Obra Original: Die Verwandlung, 1915)
«A letra de Deus nem sempre é decifrável e ninguém conhece a língua em que escreveu a alma humana.»
(Presença, 16.ª edição, Dezembro de 2005, pág. 13)
#7 – 10 de Agosto de 2006 – Eduardo Mendonza, O Labirinto das Azeitonas
«– Senhores passageiros, em nome do comandante Flippo que, por sinal, retoma hoje o serviço após a sua recente operação às cataratas, damos-vos as boas vindas a bordo do voo 404 com destino a Madrid e desejamos-vos uma feliz viagem.»
(Dom Quixote, 1.ª edição, Maio de 1991, pág. 9; Tradução de J. Teixeira de Aguilar; Obra Original: El laberinto de las aceitunas, 1982)
Contribuição de Pedro Vieira, irmaolucia.
«Durante o Verão de 1937, em Xangai, eu descia o Bund todas as tardes para ver se a guerra já tinha começado.»
(Livros do Brasil, 1993, pág. 5; Tradução de Eduardo Saló; Obra Original: The Kindness of Women, 1991)
«Enterrei hoje a minha mulher – porque lhe chamo minha mulher? Enterrei-a eu próprio no fundo do quintal, debaixo da velha figueira.»
(Bertrand, 7.ª edição, Março de 2004, pág. 9)
Sugestão de Pedro Correia, Corta-Fitas.
«Não matei o meu pai, mas às vezes sinto que contribuí para isso.»
(Gradiva, 4.ª edição, Março de 2005, pág. 7; Tradução de Cristina Ferreira de Almeida; Obra Original: The Cement Garden, 1978)
#2 – 3 de Agosto de 2006 – Chico Buarque, Budapeste
«Devia ser proibido debochar de quem se aventura em língua estrangeira.»
(Dom Quixote, 5.ª edição, Junho de 2005, pág. 11; Revisão de Fernanda Abreu; Obra Original: Budapeste, 2003)
#1 – 2 de Agosto de 2006 – Sándor Márai, A herança de Eszter
«Não sei o que Deus ainda me reserva. Mas, antes de morrer, quero escrever a história do dia em que Lajos veio ver-me pela última vez e me roubou.»
(Dom Quixote, 1.ª edição, Julho de 2006, pág. 7; Tradução de Ernesto Rodrigues; Original: Eszter Hagyatéka, 1939)