Agora que o pior acontecera, eu deixava de ter de continuar a viver no medo de ver o pior acontecer. É assim que a razão, abalada, formula a sua lógica ferida. (John Banville, Eclipse)

 

26 agosto 2006

Frases Iniciais Exemplares – Lista Alternativa (blogosfera)

#48 – David Lodge, A vida em surdina

«O indivíduo de óculos, alto e grisalho, que se encontra parado na orla da multidão, na sala principal da galeria, com o tronco inclinado para a frente e quase em cima da rapariga de blusa de seda vermelha, com a cabeça baixa e de lado, a fazer que sim de semblante compenetrado e a soltar um murmúrio fático de vez em quando, não é, como poderão pensar, um padre em dia de folga que a jovem convenceu a ouvi-la em confissão a meio da festa, nem um psiquiatra que ela ludibriou para conseguir uma consulta à borla; convém explicar que ele também não assumiu aquela postura para espreitar melhor para dentro da blusa dela, embora esse seja um bónus inesperado da situação – o único, diga-se de passagem.»

(Asa, 1.ª edição, Maio de 2009, pág. 9; tradução de Tânia Ganho; obra original: Deaf Sentence, 2008)


#47 – Samuel Beckett, Malone está a morrer

«Dentro em breve estarei apesar de tudo bem morto finalmente. Talvez para o mês que vem. Será então o mês de Abril ou de Maio. Porque o ano vai pouco adiantado, mil pequenos indícios mo dizem. Pode ser que me engane e que passe ainda o São João ou até o 14 de julho, festa da liberdade.»

(Dom Quixote, 2.ª edição, Maio de 2003, pág. 7; Tradução de Miguel Serras Pereira; Obra Original: Malone Meurt, 1951))


#46 – 22 de Setembro de 2006 – José Saramago, As Intermitências da Morte

«No dia seguinte ninguém morreu.»

(Caminho, Outubro de 2005, pág. 13)


#45 – 10 de Setembro de 2006 – Hans Blumenberg, Naufrágio com espectador (ensaio)

«O homem conduz a sua vida e ergue as suas instituições sobre terra firme. Todavia, procura compreender o curso da sua existência na sua totalidade, de preferência, com a metáfora da navegação temerária.»

(Vega, 1990, pág. ?; Tradução de Manuel Loureiro; Obra Original: Schiffbruch mit Zuschauer, 1979)

Contribuição de Luís Carmelo, Miniscente.


#44 – 10 de Setembro de 2006 – Miguel de Cervantes, O Engenhoso Fidalgo D. Quixote de la Mancha (Prólogo da obra)

«Desocupado lector:

«sin juramento me podrás creer que quisiera que este libro, como hijo del entendimiento, fuera el más hermoso, el más gallardo y más discreto que pudiera imaginarse. Pero no he podido yo contravenir al orden de naturaleza, que en ella cada cosa engendra su semejante.»

Em português:

«Desocupado leitor, sem juramento me poderás crer que quisera que este livro, como filho do entendimento, fora o mais formoso, o mais galhardo e o mais discreto que pudera imaginar-se. Mas eu não pude contravir a ordem da natureza, na qual cada coisa engendra a sua semelhante.»

(Civilização, 1999, Vol. I, pág. 20; Tradução de Daniel Augusto Gonçalves e Arsénio Mota; Obra Original: El ingenioso hidalgo Don Quixote de la Mancha, 1605; Título posterior: Don Quijote de la Mancha)

Contribuição de Rogério, Conto as favas.


#43 – 10 de Setembro de 2006 – Ruth Rendell, Sentença em Pedra

«Eunice Parchman matou a família Coverdale porque não sabia ler nem escrever.»

(Gradiva, 1.ª edição, 1984, pág. ?; Tradução de Adélia Silva Melo e revisão de Manuel Joaquim Vieira; Obra Original: A Judgement in Stone, 1977)

Contribuição de Abel Sequeira Ferreira, The Red Notebook.


#42 – 10 de Setembro de 2006 – Juan Rulfo, “Deram-nos a terra”, Planície em chamas (contos)

«Depois de tantas horas de caminhar sem encontrar nem uma sombra de árvore, nem uma semente de árvore, nem uma raiz de nada, ouve-se o ladrar dos cães.»

(Cavalo de Ferro 2003, pág.11; Tradução de Ana Santos; Obra Original: “Nos han dado la tierra” in El llano en llamas, 1953)

Contribuição de Filinto Melo, Jornada.


#41 – 10 de Setembro de 2006 – William S. Burroughs, Festim Nu

«Acordei da doença aos quarenta e cinco anos, calmo, são de espírito e, excepto o fígado debilitado e a aparência de estar metido na pele de um outro que é comum a todos aqueles que sobreviveram, razoavelmente saudável. A doença… a maior parte dos doentes não se lembra do delírio em pormenor.»

(Editorial Notícias, 1.ª edição, Outubro de 2002, pág. 9; Tradução de José Luís Luna e revisão de Abel Gomes; Obra Original: Naked Lunch, 1959)

Contribuição de Henrique Fialho, Insónia.


#40 – 26 de Agosto de 2006 – Albert Camus, O Mito de Sísifo (ensaio)

«Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: é o suicídio. Julgar se a vida merece ou não ser vivida, é responder a uma questão fundamental da filosofia.»

(Livros do Brasil, 1.ª edição, Setembro de 2005, pág. 15; Tradução de Urbano Tavares Rodrigues; Obra Original: Le mythe de Sisyphe, 1942)

Contribuição de Sérgio Lavos, Auto-Retrato.


#39 – 26 de Agosto de 2006 – Jerónimo Bemposto, Terras altas

«De avô a bisneto, os Gastões conquistaram toda a Azinheira e passaram para lá do rio, para depois perderem até o que não tinham. Foi só então que se soube que mesmo o nome era usurpado: eram Oliveira, de origens obscuras e misturadas, nascidos decerto em desterro e temperados pela maldição.»

(1969, sem mais referências)

Contribuição de Luís Mourão, Manchas.


#38 – 26 de Agosto de 2006 – John Steinbeck, Bairro de Lata

«Cannery Row, em Monterey, na Califórnia, é um poema, um fedor, uma estridência, uma gradação de luz, um som, um vício, uma nostalgia, um sonho.»

(Verbo, 1972, pág. ?; Tradução de Luísa Maria de Eça Leal; Obra Original: Cannery Row, 1945)

Contribuição de Mónica Granja, Linha do Norte.


#37 – 26 de Agosto de 2006 – Agustina Bessa-Luís, Jóia de Família

«Não se escreve melhor porque se escreveu muito. Às vezes, vou surpreender nas páginas antigas assinadas pelo meu punho um tom perfeito em que a imaginação ronda como uma madrinha incapaz de envelhecer e de perder a razão. A razão é a mesma, a coberto das longas provações das decepções, da experiência, de tudo.»

(Guimarães, 5.ª edição, Novembro de 2002, p. 7)

Contribuição de uma Leitora devidamente identificada.


#36 – 26 de Agosto de 2006 – Peter Handke, A angústia do guarda-redes antes do penalty

«Quando o canalizador Joseph Bloch, que tinha sido um conhecido guarda-redes, se apresentou ao trabalho uma manhã, soube que fora despedido.»

(Relógio D’Água, 1987, pág. 9; Tradução de Maria Adélia Silva Melo; Obra Original: Die Angst des Tormanns beim Elfmeter, 1970)

Contribuição de Pedro Vieira, irmaolucia.


#35 – 26 de Agosto de 2006 – Mário de Carvalho, Fantasia para Dois Coronéis e Uma Piscina

«Assola o país uma pulsão coloquial que põe toda a gente em estado frenético de tagarelice, numa multiplicação ansiosa de duos, trios, ensembles, coros.»

(Caminho, 1.ª edição, Novembro de 2003, pág. ?)

Contribuição de Henrique Fialho, Insónia.


#34 – 23 de Agosto de 2006 – Yann Martel, A Vida de Pi

«O meu sofrimento deixou-me triste e desanimado.»

(Difel, 7.ª edição, Setembro de 2005, pág. 19; Tradução de António Pescada; Obra Original: Life of Pi, 2002)


#33 – 23 de Agosto de 2006 – Thomas Mann, Doutor Fausto

«Faço questão de assegurar com toda a clareza que não tenho qualquer intenção de colocar a minha pessoa num lugar de destaque, ao escrever algumas palavras acerca de mim mesmo e das minhas próprias actividades, antes de iniciar o relato da vida do finado Adrian Leverkühn, a primeira e certamente muito provisória biografia do saudoso homem e músico genial, que o destino tão terrivelmente assolou, engrandecendo-o e derribando-o.»

(Dom Quixote, 2.ª edição, Março de 1999, pág. 9; Tradução de Herbet Caro, com revisão para Portugal por José Jacinto da Silva Pereira; Obra Original: Doktor Faustus, 1947)


#32 – 23 de Agosto de 2006 – Don DeLillo, Mao II

«Aí vêm eles, marchando para a luz do sol americano.»

(Relógio D’Água, Junho de 2004, pág. 11; Tradução de José Miguel Silva; Obra Original: Mao II, 1991)


#31 – 23 de Agosto de 2006 – Camilo José Cela, La Familia de Pascual Duarte

«Yo, señor, no soy malo, aunque no me faltarían motivos para serlo. Los mismos cueros tenemos todos los mortales al nacer y sin embargo, cuando vamos creciendo, el destino se complace en variarnos como si fuésemos de cera y en destinarnos por sendas diferentes al mismo fin: la muerte. Hay hombres a quienes se les ordena marchar por el camino de las flores, y hombres a quienes se les manda tirar por el camino de los cardos y de las chumberas.»

(Espanha: Ediciones Destino, 19ª Edición, 1989, pág. ?)

Contribuição de Manuel A. Domingos, Versões.


#30 – 23 de Agosto de 2006 – Eça de Queiroz, A cidade e as Serras

«O meu amigo Jacinto nasceu num palácio, com cento e nove contos de renda em terras de semeadura, de vinhedo, de cortiça e de olival.»

(Livros do Brasil, 1981, pág. ?; Publicado originalmente em 1901 – publicação póstuma)

Contribuição de Luís Miguel Oliveira, As Aranhas.


#29 – 23 de Agosto de 2006 – Milan Kundera, A Insustentável Leveza do Ser

«O eterno retorno é uma ideia misteriosa de Nietzsche que, com ela, conseguiu dificultar a vida a não poucos filósofos: pensar que, um dia, tudo o que se viveu se há-de repetir outra vez e que essa repetição se há-de repetir ainda uma e outra vez, até ao infinito!»

(Dom Quixote, 26.ª edição, Junho de 2004, pág. 1; Tradução de Joana Varela; Obra Original: Nesnesitelná lehkost byti, 1984)

Contribuição de Mónica Granja, Linha do Norte.


#28 – 23 de Agosto de 2006 – Jean-Paul Sartre, A Náusea

«O melhor seria escrever os acontecimentos dia a dia.»

(Europa-América, 1976, pág. 7; Tradução de António Coimbra Martins; Obra Original: La nausée, 1938)

Contribuição de Henrique Fialho, Insónia.


#27 – 21 de Agosto de 2006 – Truman Capote, A sangue-frio

«A aldeia de Holcomb fica situada no meio dos planaltos de trigo, no Oeste do Kansas, numa área isolada a que os demais habitantes do Estado chamam “lá para diante”.»

(Dom Quixote, 1.ª edição, Fevereiro de 2006, pág. 17; Tradução de Maria Isabel Braga; Obra Original: In Cold Blood, 1966)

Contribuição de Victor Figueiredo, Textos para Tudo.


#26 – 21 de Agosto de 2006 – Thomas Bernhard, O Náufrago

«Foi um suicídio longamente premeditado, pensei, e não um acto espontâneo de desespero.»

(Relógio D’Água, 1.ª edição, 1987, pág. ?; Tradução de Leopoldina Almeida; Obra Original: Der untergeher, 1983)

Contribuição de Carla Carvalho, Welcome to Elsinore.


#25 – 21 de Agosto de 2006 – Dinis Machado, O que diz Molero

«Teve uma infância estranha”, disse Austin. “Em última análise, todas as infâncias o são”, disse Mister DeLuxe.»

(Bertrand, 1.ª edição, 1977, pág. ?)

Contribuição de Mónica Granja, Linha do Norte.


#24 – 19 de Agosto de 2006 – Charles Bukowski, Mulheres

«Eu tinha cinquenta anos e há quatro que não ia para a cama com uma mulher.»

(Dom Quixote, 1.ª edição, Julho de 2001, pág. 9; Tradução de Fernando Luís; Obra Original: Women, 1978)


#23 – 19 de Agosto de 2006 – Guillermo Cabrera Infante, Três Tristes Tigres

«O que nunca dissemos a ninguém foi que nós também fazíamos coisas debaixo do camião.»

(Dom Quixote, 1.ª edição, Maio de 1997, pág. 25; Tradução de J. Teixeira de Aguilar e Maria do Carmo Abreu; Obra Original: Tres tristes tigres, 1967)


#22 – 18 de Agosto de 2006 – Ian McEwan, Amesterdão

«Dois ex-amantes de Molly Lane estavam à espera à porta da capela crematória, de costas para o frio de Fevereiro. Tudo aquilo já tinha sido dito, mas eles voltaram a dizê-lo.»

(Gradiva, 7.ª edição, Outubro de 2000, pág. 11; Tradução de Ana Falcão Bastos; Obra Original: Amsterdam, 1998)

Contribuição de Rui Miguel Brás, Coisas.


#21 – 18 de Agosto de 2006 – Milorad Pavic, Dicionário Khazar: romance-enciclopédia em 100.000 palavras

«O autor actual deste livro garante que o leitor não será condenado a morrer depois de o ter lido, como foi o destino dos seus predecessores, em 1691, quando o Dicionário Khazar ainda estava na sua primeira edição e quando o seu primeiro autor ainda vivia.»

(Dom Quixote, 1.ª edição, 1990, pág. ?; Tradução de Herbert Daniel; Obra Original: Hazarski Recnik, 1984)

Contribuição de Mónica Granja, Linha do Norte.


#20 – 18 de Agosto de 2006 – Erico Veríssimo, Clarissa

«Só agora Amaro acredita que a primavera chegou: de sua janela vê Clarissa a brincar sob os pessegueiros floridos. As glicínias roxas espiam por cima do muro que separa o pátio da pensão do pátio da casa vizinha. O menino doente está na sua cadeira de rodas; o sol lhe ilumina o rosto pálido, atirando-lhe sobre os cabelos um polvilho de ouro. Um avião cruza o céu, roncando – asas coruscantes contra o azul nítido.»

(Livros do Brasil, 9.ª edição, 1979, pág. ?)

Contribuição de Manuel José Matos Nunes, Disperso Escrevedor.


#19 – 18 de Agosto de 2006 – Padre António Vieira, História do Futuro

«Nenhuma cousa se pode prometer à natureza humana mais conforme a seu maior apetite nem mais superior a toda sua capacidade, que a notícia dos tempos e sucessos futuros; e isto é o que oferece a Portugal, à Europa e ao Mundo esta nova e nunca ouvida História.»

(Brasil: Universidade de Brasília, 2005, pág. ?; Organização da obra por José Carlos Brandi Aleixo; Publicado originalmente em Portugal em 1718)

Contribuição de Jorge Andrade Silva, Prima Scripta.


#18 – 18 de Agosto de 2006 – Philip Roth, Teatro de Sabbath

«Ou deixas de foder outras ou está tudo acabado.»

(Dom Quixote, 1.ª edição, 2000, pág. ?; Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues; Obra Original: Sabbath's Theater, 1995)

Contribuição de João Gonçalves, Portugal dos Pequeninos.


#17 – 18 de Agosto de 2006 – Philip Roth, O Complexo de Portnoy

«Ela estava tão profundamente implantada na minha consciência que durante o meu primeiro ano de escola eu julguei, tanto quanto me lembro, que cada uma das minhas professoras era a minha mãe disfarçada.»

(Bertrand, 1.ª edição, Março de 1994, pág. 9; Tradução de Ana Luísa Faria; Obra Original: Portnoy's Complaint, 1969)


#16 – 17 de Agosto de 2006 – Camilo José Cela, Marzuca para Dois Mortos

«Chove mansamente e sem parar, chove sem vontade mas com uma infinita paciência, como toda a vida, chove sobre a terra que é da mesma cor que o céu, entre verde suave e cinzento suave, e a linha do monte já há muito se apagou.
– Há muitas horas?
– Não; há muitos anos. A linha do monte apagou-se aquando da morte de Lázaro Codesal, consta que Nosso Senhor não quis que ninguém voltasse a vê-la.Lázaro Codesal morreu em Marrocos, na posição de Tizzi-Azza; muito provavelmente matou-o um mouro da cabila de Tafersit. Lázaro Codesal tinha grande habilidade para engravidar raparigas…»

(Difel, 1996, pág. ?; Tradução de Maria Carlota Pracana e Salvato Telles de Menezes; Obra Original: Mazurca para dos muertos, 1983)

Contribuição de António Manuel Venda, A Floresta do Sul.


#15 – 17 de Agosto de 2006 – Miguel Esteves Cardoso, O Amor é Fodido

«Quanto mais vou sabendo de ti, mais gostaria que ainda estivesses viva. Só dois ou três minutos: o suficiente para te matar.»

(Assírio & Alvim, 12.ª edição, 2004, pág. 9)

Contribuição de Rui Miguel Brás, Coisas.


#14 – 17 de Agosto de 2006 – Francisco José Viegas, Longe de Manaus

«Há um vento daqueles, carregado de poeira, quente, tenso.»

(Asa, 2.ª edição, Maio de 2005, pág. 9)

Contribuição de Mónica Granja, Linha do Norte.


#13 – 17 de Agosto de 2006 – Albert Sánchez Piñol, A Pele Fria

«Nunca estamos infinitamente longe daqueles a quem odiamos.»

(Teorema, 1.ª edição, Janeiro de 2006, pág. 5; Tradução de Magda Bigotte de Figueiredo; Obra Original: La pell freda, 2002)


#12 – 17 de Agosto de 2006 – Adolfo Bioy Casares, A Invenção de Morel

«Hoje, nesta ilha, aconteceu um milagre. O Verão chegou cedo.»

(Antígona, 2.ª edição, Janeiro de 2003, pág. 13; Tradução de Miguel Serras Pereira e Maria Teresa Sá; Obra Original: La Invención de Morel, 1940)

Contribuição de Miguel Cardina, A Cidade Vaga.


#11 – 15 de Agosto de 2006 – António Lobo Antunes, Os Cus de Judas

«Do que eu gostava mais no Jardim Zoológico era do rinque de patinagem sob as árvores e do professor preto muito direito a deslizar para trás no cimento em elipses vagarosas sem mover um músculo sequer, rodeado de meninas de saias curtas e botas brancas, que, se falassem, possuíam seguramente vozes tão de gaze como as que nos aeroportos anunciam a partida dos aviões, sílabas de algodão que se dissolvem nos ouvidos à maneira de fios de rebuçado na concha da língua.»

(Dom Quixote, 25.ª edição, Novembro de 2004, pág. 11)


#10 – 15 de Agosto de 2006 – Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas

«Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte.»

(Brasil: L&PM, 2002, pág. 15)

Contribuição de Rui Miguel Brás, Coisas.


#9 – 12 de Agosto de 2006 – Franz Kafka, A Metamorfose

«Certa manhã, ao acordar após sonhos agitados, Gregor Samsa viu-se na sua cama, metamorfoseado num monstruoso insecto.»

(Guimarães, Março de 2000, pág. 9; Tradução de João Crisóstomo Gasco; Obra Original: Die Verwandlung, 1915)


#8 – 11 de Agosto de 2006 – António Alçada Baptista, O Riso de Deus

«A letra de Deus nem sempre é decifrável e ninguém conhece a língua em que escreveu a alma humana.»

(Presença, 16.ª edição, Dezembro de 2005, pág. 13)


#7 – 10 de Agosto de 2006 – Eduardo Mendonza, O Labirinto das Azeitonas

«– Senhores passageiros, em nome do comandante Flippo que, por sinal, retoma hoje o serviço após a sua recente operação às cataratas, damos-vos as boas vindas a bordo do voo 404 com destino a Madrid e desejamos-vos uma feliz viagem.»

(Dom Quixote, 1.ª edição, Maio de 1991, pág. 9; Tradução de J. Teixeira de Aguilar; Obra Original: El laberinto de las aceitunas, 1982)

Contribuição de Pedro Vieira, irmaolucia.


#6 – 10 de Agosto de 2006 – J. G. Ballard, A Bondade das Mulheres

«Durante o Verão de 1937, em Xangai, eu descia o Bund todas as tardes para ver se a guerra já tinha começado.»

(Livros do Brasil, 1993, pág. 5; Tradução de Eduardo Saló; Obra Original: The Kindness of Women, 1991)


#5 – 8 de Agosto de 2006 – Vergílio Ferreira, Alegria Breve

«Enterrei hoje a minha mulher – porque lhe chamo minha mulher? Enterrei-a eu próprio no fundo do quintal, debaixo da velha figueira.»

(Bertrand, 7.ª edição, Março de 2004, pág. 9)

Sugestão de Pedro Correia, Corta-Fitas.


#4 – 5 de Agosto de 2006 – DBC Pierre, Vernon Little, O Bode Expiatório

«Está um calor de morrer em Martírio, mas os jornais que estão no alpendre até gelam com as notícias.»

(Gradiva, 1.ª edição, Dezembro de 2003, pág. 7; Tradução de Maria do Carmo Figueira; Obra Original: Vernon God Little, 2003)


#3 – 3 de Agosto de 2006 – Ian McEwan, O Jardim de Cimento

«Não matei o meu pai, mas às vezes sinto que contribuí para isso.»

(Gradiva, 4.ª edição, Março de 2005, pág. 7; Tradução de Cristina Ferreira de Almeida; Obra Original: The Cement Garden, 1978)


#2 – 3 de Agosto de 2006 – Chico Buarque, Budapeste

«Devia ser proibido debochar de quem se aventura em língua estrangeira.»

(Dom Quixote, 5.ª edição, Junho de 2005, pág. 11; Revisão de Fernanda Abreu; Obra Original: Budapeste, 2003)


#1 – 2 de Agosto de 2006 – Sándor Márai, A herança de Eszter

«Não sei o que Deus ainda me reserva. Mas, antes de morrer, quero escrever a história do dia em que Lajos veio ver-me pela última vez e me roubou.»

(Dom Quixote, 1.ª edição, Julho de 2006, pág. 7; Tradução de Ernesto Rodrigues; Original: Eszter Hagyatéka, 1939)

3 comentários:

Anónimo disse...

E está terminada a lista?
Ou ainda se aceitam-se contribuições?

Um leitor tardio desta belíssima idéia,

JG

Anónimo disse...

É favor ignorar repetição do "se" no comentário anterior.

Obrigado.

JG

Anónimo disse...

Perfeitamente a tempo, meu caro JG.
Pode enviá-las para o e-mail do Porque.